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sábado, 9 de abril de 2011

Você põe a mão na boca para virar a página de um livro? Cuidado: Risco de morte!

Por Márcio Caseiro.
 Ashley Isabella.

   Mortes sobrenaturais frequentemente observadas num mosteiro localizado no obscuro norte da Itália em 1327 d.C. Esta foi a ideia principal utilizada para a concepção do romance de 1980 do escritor italiano Umberto Eco, entitulado de 'O nome da rosa', do qual originou-se o filme de mesmo título rodado em 1986.

                 Em seu enredo, o instinto aguçado de razão de um monge e seu jovem aprendiz os estimulam a realizar investigações particulares das mortes que, acreditavam eles, embora estranhas, não fossem provenientes de forças ocultas ou malignas. Realizando autópsia dos corpos, constataram que todos apresentavam a seguinte semelhança: tinham a ponta do dedo e a ponta da língua pretas por motivo desconhecido. A trama vai se desenrolando e culmina na descoberta de que as mortes estavam ligadas a um livro proibido que tinha, no canto inferior, pequenas doses de veneno, levando as pessoas a óbito após colocar o dedo na língua de modo a virar a página. O livro estava em posse do líder da ordem dos capuchinhos que, ao ser descoberta a sua localização, numa atitude de fanatismo religioso, queima-o, ateando fogo no livro e na própria vestimenta, provocando um incêndio em toda a biblioteca que foi, quase que totalmente, destruída.

         O assassino foi, por todo o tempo, o velho mestre que não deixava que lessem o tal livro proibido por se tratar de comédia, pois o riso era vedado aos monges para que temessem a Deus. Riso era considerado manifestação satânica, sendo afirmado que, se monges pudessem rir, ririam até de Deus.

      Esta foi a época de transição entre a tradição medieval e a moderna, conhecido como humaninsmo, que é caracterizado pela capacidade do homem de pensar por si mesmo. O movimento humanista está intimamente ligado à ideia de antropocentrismo, a qual coloca o ser humano no centro do universo, de modo que deixam de acreditar que Deus intervia em tudo o que acontecia.

     Deixando a ficção de lado, a realidade é que no período medieval é possível que religiosos dinamarqueses tenham sido vítimas de mercúrio, um componente tóxico utilizado na fórmula de uma tinta vermelha de cor brilhante e viva. O fato é que, mesmo utilizada como pigmento, a elevada exposição ao mercúrio, em casos de complicação, podem resultar em morte, inclusive, alertam os pesquisadores que folhear os livros da época, ainda hoje, pode ser fatal.


       A intoxicação por mercúrio se dá em razão de ser ele um metal pesado tendente a acumular-se no cérebro, fígado e rins. Uma vez no organismo todo, o mercúrio age como veneno, causando, por conseguinte, a morte do agente. Comparando-se com a história criada pelo escritor Umberto Eco, um dos sintomas da intoxicação por mercúrio é justamente o aparecimento de um aspecto cinza escuro na boca e faringe da pessoa. A boa notícia é que existe um antídoto, denominado dimercapol, que deve ser ministrado de quatro em quatro horas nos dois primeiros dias e de doze em doze horas até o décimo dia. O mercúrio é um metal muito perigoso quando em contato com o organismo do homem, quer seja por via aérea, quer seja por ingestão. Os danos causados pelo mercúrio são graves e em grande parte dos casos permanentes.


     Hoje em dia, diferentemente da época medieval em que os livros eram todos manuscritos e levavam anos para ficarem prontos, os livros são impressos em grande escala em papel apropriado e as tintas utilizadas no processo são inofensivas - é o que dizem por aí. Continuar a utilizar a técnica medieval de virar páginas? Por via das dúvidas, melhor não.

2 comentários:

  1. Special thanks to Ashley Isabella for the conception of the image wich ilustrate this paper. Gallery avaliable at: http://welcometomyworldvxi.deviantart.com/gallery/

    Agradecimentos especiais a Ashley Isabella pela concepção da imagem que ilustra este artigo. Galeria disponível em: http://welcometomyworldvxi.deviantart.com/gallery/

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  2. Depois de ver O nome da rosa, never more !!!

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