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sábado, 26 de março de 2011

A Idade Média real e a Idade Média dos contos de fadas

Por Márcio Caseiro.
Walt Disney: Reprodução.
     
      Era uma vez, num reino muito distante da realidade, a Idade Média. O cenário era composto por castelos, princesas, reis, magos, bruxas e dragões. Suas paisagens, repletas de campos floridos e arvoredos, transmitiam a magia da época, onde se via princesas e príncipes, sempre rodeados de súditos e servindo grandes banquetes em honra ao seu rei. Já num local mais próximo da realidade, os camponeses mal cheirosos e totalmente desprovidos de cuidados higiênicos cuidavam de alguns poucos animais que lhes rendiam alimentos necessários à sua subsistência.

      A diferença entre a real Idade Média e a Idade Média falsa é gritante. Essa conversão da realidade em conto de fadas, alavancada pelos muitos livros infanto-juvenis e desenhos longa metragem da Walt Disney, reforçou a ideia fantasiosa que sempre tivemos do período medieval. Esqueçam os dragões e os bosques encantados por fadas! A verdadeira Idade Média foi muito diferente disto. O cenário marcado pela miséria e repressão social, estampava o poder da nobreza e do poderio da Igreja católica – instituição mais poderosa de toda a Idade Média.

    Por outro lado, o cinema estampa a Idade Média de uma forma mais realista, valorizando a classe dos cavaleiros como verdadeiros organizadores do reino, porém ainda não exprime totalmente o estilo de vida das pessoas, que era miserável e medíocre. A sociedade, totalmente hierarquizada e disposta em classes, dava margem a muitos abusos dos mais altos na escala social em relação aos que se localizavam nas bases desta. Os camponeses abrigavam-se em casas precárias feitas de pedras ajuntadas por barro e cobertas com palha. As camas eram igualmente de palha e geralmente dormiam como os animais pelos cantos – quando não junto deles. Assim procediam porque os animais fora de casa ficavam expostos a condições naturais do tempo e a saques, assim, eram colocados para dentro de casa ao anoitecer, o que facilitava a manifestação de piolhos e outros parasitas que infestavam a população. Geralmente, só tinham a roupa que trajavam e não tinham o costume de tomar banho, de forma que era dito que só havia uma certeza na vida dessas pessoas: a de que tomariam banho ao menos duas vezes na vida - uma vez após o nascimento e outra quando morriam.

     Durante o período medieval, compreendido entre os séculos V e XV, a Igreja católica detinha a maior parcela de poder, manipulando os súditos em seu próprio favor, pois, naquela época, não havia sequer uma pessoa que duvidasse da existência de Deus, assim, o fato de ser católico era tão natural quanto o ato de respirar. A população quase que totalmente não alfabetizada, sequer entendia o que era dito nas missas – todas rezadas em latim – então a Igreja demonstrava os ensinamentos por meio dos vitrais das catedrais para que, a partir das imagens, as pessoas passassem a compreender os dogmas católicos. As catedrais, grandiosas e soberanas, assim eram concebidas como meio de demonstrar à população o real poder da Igreja, bem como a sua insignificância perante a instituição. Também era estipulado um valor proporcional a cerca de 10% do ganho anual da população revertida em favor da Igreja, ademais, indulgências eram cobradas como meio de as pessoas garantirem um lugar no céu após a morte, de forma que muitas pessoas passavam a vida toda economizando para que pudessem comprar a 'passagem para o paraíso'.

      Opor-se à Igreja era um ato de natureza gravíssima, chamado de heresia, o que levava as pessoas a serem condenadas. Aí tem-se notícia das bruxas perversas dos contos de fadas, mas não aquelas que voavam em vassouras ou faziam feitiçaria em caldeirões borbulhantes, ao contrário, as bruxas medievais eram pessoas comuns que praticavam algum tipo de curandeirismo ou realizavam as chamadas simpatias. O órgão interno da Igreja, responsável por julgar tais pessoas acusadas de heresia era chamado de tribunal do santo ofício, e fazia uso de tortura em seus interrogatórios. Muitas pessoas que não eram culpadas acabavam, por exaustão e como forma de repelir a tortura, confessando crimes que jamais cometeram. Por fim, eram levadas à praça pública e queimadas vivas nas fogueiras.
 
       A opressão social, porém, não se concentrava somente no fato de a Igreja subjugar as pessoas, mas também pelo sistema feudal, o qual se baseava na ideia de que o susserano concedia um lote de terra a um nobre, chamado de vassalo que se encarregaria de cuidar e administrar as terras e, para isso, precisaria de mão de obra que era encontrada nos servos ou vilões.

       Todos estes fatores afundavam cada vez mais a população e elevavam as outras classes, de modo que, valendo-se dos serviços prestados pelos súditos, as classes dominantes pudessem enriquecer. Num mundo em que a posição social dos indivíduos era definida pelas suas respectivas posses, ficava clara a vontade de dominar e não ser dominado que movia o homem.


     Realidade e fantasia podem sim ser faces de uma mesma moeda, contudo, deve ficar bem claro que a perspectiva que se tem do momento histórico, quando usado como pano de fundo para alguma filmagem digna de Hollywood, é algo, muitas vezes, distorcido e moldado conforme os interesses dos diretores. Somente uma coisa é certa: Se imaginarmos o nosso mundo - que, embora não seja ideal, mas que já é muito melhor em relação à Idade Média - infinitamente melhor do que é, estaríamos perto do modelo perfeito humanitário. Talvez devamos converter nossa imaginação em realidade.

14 comentários:

  1. Achei demais, aprendi muitas coisas q não sabia, passa um monte de coisa batida na escola, assim ficou bem mais facil de entender, e vc tem razão msm desenho fantasia muito kkk vlw

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  2. Aprender de uma forma divertida e interessante. É o que proponho.

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  3. IUPI!!! Adorei Márcio, explicação poética e envolvente, embora científica e clara! =)Como a igreja católica ainda consegue carregar descaradamente esse fardo!?
    eu prefiro acreditar num mundo melhor e trabalhar pra construí-lo!^^

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  4. não posso deixar de indicar o livro "Diário de um Cavaleiro Templário" de Orlando Paes Filho, editora Record, vale a pena ler, pra quem quiser se aprofundar mais nessa história [me refiro a igreja e não aos templários, os templários é um bônus ^^]

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  5. A igreja mudou muito, agora as pessoas vao pq elas querem e pq a igreja é boa, hoje em dia as pessoas são mais livres pra fazer suas escolhas.
    Parabéns pela matéria, esta muito bonita :)

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  6. Marcio como sempre falando de coisas importantes e falando bem. parabens!!!! se vc pensar bem nenhuma igreja ou religião é necessaria em nossas vidas, pq vc nao reza apenas na igreja, vc reza em qualquer lugar, vc tem fé em qualquer lugar e vc tem fé em seu deus náo na sua religião ou na sua irgeja, ma cada um acredita no que acredita,por isso cada um é o que pensa!!!!!!!!!!!!

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  7. Afff não tomar banho? Se uma semana já fede, imagina uma vida? =O

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  8. Credoo, deve feder demais. Deve ser por isso que os perfumes europeus são tão bons, pra abafar o fedor do passado. hahahah.

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  9. Maravilhoso! Principalmente a parte das bruxas, que injustamente são retratdas como criaturas do mal. Parabéns! Sua mente é muito aberta, isso vai te trazer mais conhecimento ainda. ;)

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  10. amei td! me ajudou bastante e sei q ajudará mts pessoas! parabéns! beijoos *-*

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  11. NADA MUDOU. MUDOU APENAS O SACO, O CONTEUDO É O MESMO...O LIXO DO HOMEM EXPLORADOR.
    MUDOU APENAS O METODO DE EXPLORAÇÃO DO HOMEM PELO PROPRIO HOMEM.

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  12. Morri de rir da parte em que disse que as pessoas só tomavam banho uma vez no nascimento e uma vez na morte. Vc é muito inteligente, Márcio.

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  13. Kkkkk Os camponeses medievais eram um bando de porcos. Não acham?

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